PSDB nacional confirmou intervenção e saída de Brandão do comando é questão de tempo. Mas ele promete resistência. “Vamos à justiça”, diz
A guerra, de fato, começou no PSDB do Maranhão. Carlos Brandão, vice-governador e presidente estadual, prepara uma batalha judicial para se manter à frente da legenda. Mas não vai ser fácil. Segundo apurou O Imparcial, a cúpula nacional já interviu no diretório estadual. Acatou o pedido do ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira. O objetivo é destituir Brandão, aliado do governador Flávio Dino (PCdoB), e alinhar a legenda ao projeto do senador Roberto Rocha, que sonha em ser candidato a governador do Maranhão. E isso é questão de tempo.
“Já fizemos todos os processos administrativos, políticos e agora o terceiro é jurídico. Vai ser uma guerra. E estamos preparados”, defende-se Brandão. Madeira ataca: “Este PSDB que tem hoje no Maranhão não serve para o PSDB Nacional. É um PSDB que está atrelado ao comunismo, e o conselho que dou é: o membro do PSDB que quer apoiar Flávio Dino, o lugar não é no PSDB, que vá para PT, PCdoB, PDT”.
O racha pelo qual passa PSDB hoje foi desenhado há meses, desde que o senador Roberto Rocha, esvaziado no PSB, começou a negociar sua transferência para o ninho tucano. Com bom trânsito na cúpula nacional, querido por Geraldo Alckmin, governador de SP, Rocha uniu o útil ao, agradavelmente, conveniente. E ofereceu, pelo menos, três vantagens ao PSDB nacional.
“O PSDB nacional precisava de mais um senador que se comprometesse com a candidatura do Alckmin a presidente. Dando o partido ao Roberto, de uma tacada eles (1) prejudicam Flávio (Dino), que é aliado do PT, inimigo nacional do PSDB e um potencial presidenciável em 2022; (2) garantem um palanque para os tucanos no Maranhão; (3) e ainda ganham mais uma cadeira no Senado. Sem dúvida, a ida de Rocha fortalece o projeto nacional”, comenta uma fonte tucana ouvida pela reportagem.
Nesta semana, o entrevero tucano ganhou contornos mais rasteiros. Ataques mútuos entre os antigos aliados. Conversamos com Carlos Brandão (leia a entrevista abaixo), que não poupou crítica a Madeira e Rocha. “Madeira e Roberto são dois caras que tem perfil de traidores. Não tem gratidão”, indigna-se. Para Madeira, “a continuação do Brandão como presidente é uma desmoralização do PSDB Nacional. Ele pode apelar para o que quiser”.
Abaixo, confira a entrevista com o presidente estadual, Carlos Brandão.
O Imparcial – Por que essa queda de braço no PSDB?
Carlos Brandão – Eles (Sebastião Madeira e Roberto Rocha) pensam diferente. Querem uma candidatura do Roberto. Só que o partido na minha mão não vai seguir nessa linha. Então só tem um jeito: tomar o partido na marra. Por conta disso eles têm batido numa tese de que o PSDB no Maranhão é um apêndice do PCdoB, como se todos os partidos da base do Flávio Dino fossem apêndices. Coisa que não existe.
Historicamente o entendimento entre vocês sempre foi bom. Como surgiu esse racha dentro do partido?
Na verdade esses dois ‘caras’ foram os mais apreciados pelo governo (Flávio Dino). Roberto foi eleito pelo Flávio. Ele não tinha condições de se eleger. Flávio estava um tsunami eleitoral e nos últimos 15 dias ele tinha 30 pontos (percentuais nas pesquisas) na frente do Roberto e foi pedir voto pra senador, deixando até de pedir pra ele mesmo. Na realidade, ele elegeu o Roberto. Só que, depois que foi eleito, foi contemplado com a Secretaria de Meio Ambiente. Mas ele não ficou satisfeito e queria mais um pedaço do Governo, além da secretaria. E Flávio não deu.
E o Madeira?
O Madeira foi o cara que na campanha de governador foi quem mais defendia essa aliança. Depois de eleito, Flávio Dino passou dois anos andando com ele por Imperatriz, ajudando ele. A prefeitura estava numa situação praticamente de falência. Ele ajudou com dinheiro da saúde, botou asfalto na cidade, construiu hospital, poços, água, esgoto beira rio. Imperatriz era um canteiro de obras. Só que, após sair da prefeitura, mostrou que o projeto dele era igual ao do Roberto: ser senador com apoio de Flávio. Mas Flávio nunca convidou – até porque temos quatro pré-candidatos no grupo. Então, como ele apoiaria? Madeira queria ser escolhido logo. Mas nenhum foi indicado pelo Flávio e ele se achou preterido e resolveu romper. E mais: essa postura dele é cheia de incoerências.
Que tipo de incoerências?
Na gestão de prefeito ele nomeou o irmão do Flávio (Saulo Dino) secretário de Esportes. Como falar em subserviência? Depois, já na eleição, tentou apoiar a candidatura do Clayton Noleto (Secretário Estadual de Obras), que é do PCdoB. Como Clayton não se viabilizou, tentou apoiar Marco Aurélio, que é deputado estadual pelo PCdoB. Mais subserviência do que isso desconheço. Ele diz que é um homem de partido. Mas se ele era prefeito da cidade pelo PSDB, por que não lançou um candidato do PSDB? Por fim, não deu certo o Clayton, nem o Marco Aurélio e ele não lançou ninguém do PSDB e foi apoiar um candidato de outro partido. Então é tudo muito cheio de incoerências. Madeira e Roberto são dois caras que tem perfil de traidores. Não tem gratidão.
Sabe-se que Roberto conversa melhor hoje com o grupo Sarney do que com o grupo de Dino. O senhor acredita que ele vai levar o partido pra Roseana em 2018?
Vai. Para ser laranja de Roseana. Só para dar o segundo turno. Se ele for candidato e tiver 4%, por exemplo, gera o segundo turno. A gente já conhece esse filme. Em 2002 ele foi candidato a governador, teve 4% e no meio da eleição jogou a toalha. É um general sem exército. No dia da filiação dele no PSDB, em Brasília, tinham 180 prefeitos no evento da Famem lá. Convidou todos e nenhum foi na filiação dele. Ele está querendo ver se pega as pessoas que estão descontentes com Flávio Dino. Ele tem 2 ou 3% nas pesquisas. Ai ele tenta polarizar pra ver se cresce. Porque quem não gosta de Dino tem que ir para algum lugar. E esse lugar ele quer que seja ele. Mas Flávio não dá bola.
Por que não querem o PSDB com Flávio no Maranhão?
O Flávio tem as ligações políticas dele com a esquerda. Porém, o Flávio, em 2014, já tinha. Nossa aliança com o PCdoB é para questão estadual. Para a questão nacional nós sempre nos separamos. Eu nunca participei de nenhum evento com Dilma ou Lula aqui no Maranhão. O projeto local é diferente do nacional. Essa aliança com o PCdoB foi avalizada e aprovada pela cúpula nacional. O Aécio avalizou e estava na campanha. O PSDB era um nanico. Saiu de oito para 30 prefeito. Saiu e nove para 30 vices, teve mais de um milhão de votos.
O senhor acredita que uma intervenção nacional vai lhe tirar do comando do partido?
Não sei. Estou aguardando. Estou preparado para tudo. Fiz uma reunião quarta com correligionários e todo mundo está firme. Dizem que não vão para esse projeto. Ninguém vai. Chamei os dois (Madeira e Roberto) para disputar comigo, mas eles não vão. Não têm voto. Mas se fizerem isso eu vou para Justiça. Já fizemos todos os processos administrativos, políticos e agora o terceiro é jurídico. Vai ser uma guerra. E estamos preparados. Diante de tanto trabalho que a gente fez, seria uma fraqueza se eu não fosse. Crescemos 290%´o maior crescimento do PSDB no Brasil. Não podemos jogar isso fora.
FONTE: O IMPARCIAL