Apesar da cúpula nacional do PMDB orientar que nenhum militante tenha cargos no governo federal, alguns políticos maranhenses são contra a determinação do partido
O Diretório Nacional do PMDB bateu o martelo. Em reunião que contou com presença de cerca de 200 integrantes do partido, foi definido que eles deixam a base do governo Dilma Rousseff. A posição nacional ficou bem clara, mas os peemedebistas do Maranhão não concordam e devem agir contrários.
A reunião “relâmpago” aconteceu ontem, em Brasília. A TV Câmara cobriu o evento e, em certo momento, uma das câmeras fez uma panorâmica do plenário. Em nenhum momento, foi possível identificar algum maranhense que integre as linhas do PMDB, para que se tenha ideia de que lado ficou.
Ninguém sai
A ausência dos maranhenses se explica nas palavras do presidente do diretório estadual do PMDB, o senador João Alberto. Apesar da orientação nacional, os peemedebistas daqui não devem entregar nenhum cargo.
“[André Campos] continua. [Arnaldo Melo] continua. Todos continuam normalmente. Ninguém sai. Sou contra o impeachment”, disse, de forma enfática, João Alberto.
Sobre a decisão do diretório nacional, o senador afirma que sequer foi à reunião. “O diretório nem compareceu. O presidente do partido sou eu, que tem assento e não fui. Os dirigentes na nacional não foram. O deputado João Marcelo também não foi. O senador Edison Lobão não foi. Do Maranhão, nós nos abstivemos”, acrescentou o senador.
Roseana presente
A ex-governadora do Estado, Roseana Sarney, foi a única a comparecer. Como membro do diretório nacional, ela se viu no dever de ir à reunião e apoiar a decisão que fosse tomada ali. “Eu faço parte da Executiva Nacional. Aqui é um colegiado que define como um só. Estou acompanhando o partido. Está no timing certo. Era uma questão só de decisão”, afirmou Roseana.
Ela foi além nas declarações e deixou a entender que não é contra o impeachment da presidente Dilma. “Ainda não avaliei. Mas o que o partido decidir, estarei junta”, explicou a ex-governadora.
Desembarque completo
A ruptura entre PMDB e governo Dilma traz consequências imediatas aos políticos que ocupam cargos federais por indicação. No Maranhão, ao menos três nomes ocupam cargos de confiança.
Entre eles, está o ex-deputado estadual e ex-presidente da Asssembleia Legislativa do Maranhão, Arnaldo Melo. Ele assumiu, em setembro do ano passado, a função de diretor executivo da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Segundo Arnaldo, como a decisão do PMDB nacional foi recente, ele vai tratar com os membros do partido no Maranhão para saber que postura deve tomar. “Há uma orientação, um direcionamento dado pelo partido no âmbito nacional. Mas eu vou conversar com o partido, nossa base em Brasília, para saber que decisão é a mais correta. Não posso me precipitar, porque há ministros e outros membros do PMDB com cargos federais com dificuldades em relação ao caso. Mas até sexta-feira devemos ter uma definição”, disse Arnaldo Melo.
O ex-diretor-geral do Detran, André Campos, está como superintendente da Funasa no Maranhão. Assumiu o posto também em setembro de 2015, através de uma articulação dos peemedebistas mais próximos a Dilma, mas, agora, se vê na mesma encruzilhada que aponta a permanência ou saída do governo.
Um dos cargos mais polemizados dos últimos meses é a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit). O recém-empossado ao posto Maurício Itapary vem de indicação do PMDB.
Diálogo para definir
O presidente do PMDB São Luís, vereador Fábio Câmara, segue no mesmo discurso do diálogo. Segundo ele, os principais nomes do PMDB no Maranhão vão conduzir as discussões e o ‘melhor para o povo’. “Temos que decidir não somente pelo partido. Todos os que têm mandato o receberam pelas mãos do povo, que nos confiou o voto de confiança. Por isso, acredito que os nossos líderes, que estão discutindo o assunto em Brasília, vão saber escolher o melhor caminho para nós aqui”, disse Fábio Câmara.
PMDB deixará cargos até 12 de abril
Líderes do PMDB consideram o dia 12 de abril como data-limite para a entrega dos cargos do partido no governo, inclusive os sete ministérios. Mais cedo, o Diretório Nacional do PMDB decidiu ontem, por aclamação, deixar a base aliada do governo da presidente Dilma Rousseff. “Existe uma discussão sobre dar um prazo, acho até que é uma coisa razoável, ministro não pode sair batendo portas deixando assuntos importantes do ponto de vista do interesse público nacional por resolver”, disse o presidente da Fundação Ulisses Guimarães, Moreira Franco.
Mesmo com o rompimento, os líderes do PMDB disseram que o partido não será oposição, mas que vai adotar uma postura de independência. “Nós seremos independentes. O que for de interesse do governo e importante para o Brasil nós iremos votar. Se for algo que nós não concordemos, nós diremos claramente, não teremos mais atrelamento à base do governo”, disse o senador Romero Jucá, vice-presidente do PMDB.
Reunião
A reunião em que o PMDB decidiu romper com o governo federal teve a participação de mais de 100 dos 127 integrantes do diretório. A resolução aprovada estabelece a “imediata saída do PMDB do governo, com a entrega dos cargos em todas as esferas do Poder Executivo Federal”. Quem contrariar a decisão, ficará sujeito à instauração de processo no conselho de ética do partido.
Embora a decisão seja de abandonar imediatamente os cargos ocupados pelos peemedebistas no governo, a cúpula partidária acenou em avaliar cada caso e até permitir uma saída gradual. “A partir de agora, o PMDB não autoriza ninguém a exercer, em nome do partido, nenhum cargo federal. Se, individualmente, alguém quiser tomar uma posição vai ter que avaliar o tipo de consequência, o tipo de postura para a sociedade”, disse Jucá. “Para bom entendedor meia palavra já basta, aqui nós demos hoje uma palavra inteira”.
A crise econômica foi apontada como maior justificativa para o afastamento do governo. Apesar de ainda permanecer com a vice-presidência e de comandar até o início da semana sete ministérios, o PMDB culpou o PT pela recessão enfrentada no país. “Estamos indo para o terceiro ano de recessão e os milhões de brasileiros que conquistaram posições sociais estão perdendo essas posições e o governo não apresenta uma alternativa”, justificou Franco.
Um dos principais defensores do fim da aliança com o PT, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi um dos primeiros a chegar à reunião, que durou cerca de cinco minutos. Conforme já estava previsto, a ala do partido contrária ao desembarque, incluindo os seis ministros, não compareceu ao evento. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que ontem se reuniu com Temer para fechar os detalhes do desembarque, também não esteve presente.