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PF prende proprietária do Boi de Maracanã e mais dois por desvio de emendas parlamentares em São Luís
Trio foi detido em flagrante ao sacar R$ 500 mil em espécie; Polícia Federal aponta esquema que teria desviado mais de R$ 2 milhões da Secretaria de Cultura do Maranhão
Por Henrique Sampaio
Publicado em 18/10/2025 15:11 • Atualizado 18/10/2025 15:15
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A Polícia Federal prendeu em flagrante, nesta sexta-feira (17), três pessoas suspeitas de envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares estaduais. As prisões ocorreram em uma agência do Banco do Brasil, próxima ao Palácio dos Leões, no Centro de São Luís.

Os detidos foram identificados como Larissa Rezende Santos, assessora parlamentar; Maria José de Lima Soares, proprietária do tradicional Boi de Maracanã; e Ivan Jorge da Piedade Madeira, presidente da Companhia de Cultura Popular Catarina Mina.

Segundo a PF, o trio foi flagrado após sacar R$ 500 mil em espécie, valor que seria destinado a projetos culturais financiados pela Secretaria de Cultura do Estado (SECMA). As investigações apontam que o montante fazia parte de um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas, que já teria movimentado mais de R$ 2 milhões.


Como funcionava o esquema

De acordo com o relatório policial, os valores eram liberados por meio de emendas parlamentares estaduais destinadas a entidades culturais. Após o saque, o dinheiro era dividido entre os envolvidos, e grande parte retornava, segundo a PF, aos próprios parlamentares que indicavam as emendas.

Durante a prisão, os agentes apreenderam R$ 400 mil em uma mochila carregada por Larissa Rezende e R$ 19,3 mil com Maria José de Lima Soares. Ivan Madeira admitiu ter recebido R$ 50 mil, equivalente a 10% do valor total.

As investigações revelam que o recurso seria utilizado para um evento alusivo ao Dia das Crianças, mas não há comprovação de que as ações tenham sido realizadas.


️ Parlamentares citadas

Três deputadas estaduais foram citadas em depoimentos e documentos apreendidos pela Polícia Federal: Helena Duailibe, Andreia Rezende e Cláudia Coutinho (licenciada).

  • Helena Duailibe: Segundo a PF, Larissa Rezende confessou que os R$ 400 mil seriam entregues à deputada na Assembleia Legislativa para uma “festa natalina”. O nome da parlamentar também aparece em um documento apreendido que relaciona emendas e eventos culturais.

  • Andreia Rezende: Larissa é assessora da deputada e uma das emendas sob investigação, no valor de R$ 300 mil, teria sido assinada em nome dela. Larissa, no entanto, nega qualquer envolvimento da parlamentar.

  • Cláudia Coutinho: O nome da deputada licenciada aparece associado ao contrato de R$ 500 mil para o projeto “Festival das Crianças”.

Diante da citação de parlamentares com foro privilegiado, o Ministério Público solicitou que o caso fosse remetido ao Tribunal de Justiça do Maranhão.


Notas de esclarecimento

Helena Duailibe disse ter sido “surpreendida” com o caso e negou conhecer qualquer um dos envolvidos.

“Nunca recebi e jamais receberei valores indevidos de qualquer natureza”, afirmou a deputada em nota.

Ivan Madeira, presidente da Companhia Catarina Mina, declarou que está colaborando com as investigações.

“Ivan é um dos mais antigos fazedores de cultura do Maranhão, com quase três décadas de trabalho reconhecido”, informou sua assessoria.

Larissa Rezende, por meio de seu advogado Gilvan Espinosa, ressaltou que é ré primária e possui “conduta ética e ilibada”.

“Qualquer conclusão precipitada é especulativa e pode causar prejuízos irreparáveis”, disse a defesa.

Maria José de Lima Soares, conhecida como Maria do Boi de Maracanã, também negou as acusações e afirmou ter prestado contas de todos os projetos culturais realizados.

“Minha trajetória é marcada pelo compromisso com a cultura popular e o bem-estar da comunidade”, afirmou a advogada Aulinda Mesquita Lima.

A Assembleia Legislativa do Maranhão, presidida pela deputada Iracema Vale, informou que ainda não recebeu notificação oficial sobre o caso, mas garantiu “total colaboração” com as autoridades.


⚖️ Próximos passos

Os três presos foram autuados por lavagem de dinheiro e peculato, e permanecem à disposição da Justiça Federal. A Polícia Federal segue apurando o envolvimento de outros nomes ligados à Secretaria de Cultura e aos gabinetes parlamentares.

O caso reforça a atenção das autoridades para o uso de emendas parlamentares em projetos culturais — uma área frequentemente alvo de investigações por suspeita de desvio de verbas.

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